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A fonte ameaça secar

A fonte ameaça secar
Marcelo Szpilman
jan. 15 - 6 min de leitura
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A fonte de que trata este artigo não é de água, ainda que esse seja outro grave problema, mas sim a fonte de recursos pesqueiros que vem sendo exaurida e ameaçada há tempos e que está bem próxima de secar.

Todos concordamos que a carne de peixe é uma das melhores, em se tratando da facilidade de digestão e valor nutritivo. Temos também fortes razões gustativas para apreciarmos as lagostas, camarões e mexilhões. Comê-los sempre foi um ato natural e nada antiecológico. No entanto, para que possamos continuar a consumir os recursos pesqueiros devemos pensar de forma responsável sobre este assunto.

Os oceanos e sua biodiversidade devem ser vistos como uma prioridade na questão da preservação ambiental. Não foi por outra razão que a ONU instituiu a Década dos Oceanos de 2021 a 2030. O objetivo é potente - aumentar nossos conhecimentos sobre a imensidão de água salgada que cobre 70% do planeta - e o propósito é um só: conservar sua biodiversidade.

Apesar de a pesca ser uma das mais antigas atividades desenvolvidas pelo homem, parece que todo esse tempo de prática ainda não foi suficiente para evitar que ela seja realizada de forma deletéria. Levantamentos recentes indicam que hoje a captura indiscriminada mata e desperdiça, todos os anos, entre 30 e 40 milhões de toneladas de peixes, tubarões, raias, tartarugas e mamíferos marinhos. Isso representa nada mais nada menos do que um terço de toda a pesca mundial. É um crime contra a natureza.

Um desperdício inaceitável que ameaça secar a fonte.

A destrutiva combinação de sobrepesca - pesca feita de forma correta e legal, porém acima do limite que uma espécie tem de se auto repor na natureza - e pesca predatória (aquela feita de forma incorreta e ilegal, como a pesca com malha fina, arrastão de fundo ou com uso de bomba) empreendida nas últimas décadas cobrará um alto preço e muito em breve teremos um cenário insustentável.

Recente relatório da FAO/ONU indica que 93% do pescado selvagem comercial estão classificados como capturado em sua capacidade máxima de exploração ou como sobrepescado. Minuciando, significa que 33% dos estoques pesqueiros do mundo estão sendo esgotados mais rápido do que podem ser repostos e outros 60% estão sendo capturados no nível máximo de reposição. Ou seja, restam somente 7% dos estoques pesqueiros no nível sustentável.

E pasmem! Cerca de 80% de toda biomassa dos oceanos já foi reduzida pela pesca industrial e pela pesca artesanal. Esse resultado, junto com os efeitos do aquecimento global nos oceanos, ameaça dizimar os peixes selvagens. Mas a demanda por pescado continua a crescer - a expectativa é de 30% de crescimento na próxima década, mesmo com o aumento dos preços.

Precisamos, com urgência, nos conscientizar de que o mar, apesar de seu tamanho, não é um provedor com recursos inesgotáveis e que o limite de exploração para algumas espécies já foi ultrapassado. No entanto, felizmente, os recursos pesqueiros, ao contrário de outros recursos naturais, podem ser perfeitamente renováveis. O correto gerenciamento de seus estoques deve ser visto como importante ferramenta para o desenvolvimento sustentável do país.

Nesse sentido, existem alguns instrumentos que já se mostraram eficientes. O defeso, que é a proibição da pesca na época de reprodução (desova) do animal, e a maricultura, que se constitui na produção controlada de espécies marinhas em áreas confinadas, são não só soluções para a queda na captura de espécies comerciais como também formas de preservação dos oceanos. Mas existe uma outra bastante simples que você pode perfeitamente contribuir.

A culinária responsável, que prevê o consumo consciente de apenas aquelas espécies não ameaçadas de extinção, é um claro exemplo de mudança de atitude individual. É um movimento que vem sendo incorporado por vários chefs e restaurantes e do qual você pode também participar.

Devemos entender que muitos dos antigos hábitos de consumo não cabem mais nos tempos atuais. O planeta mudou. O clima mudou. O mundo mudou. Será que você ainda não percebeu? Ou só perceberá quando as sérias consequências advindas dos desequilíbrios nos oceanos baterem à sua porta?

Buscando contribuir com as suas escolhas, preparei um guia de consumo responsável com sugestões de quais espécies você deve ou não consumir:

1. Peixe-espada – Liberado

A espécie Trichiurus lepturus, ocorre em todo o litoral brasileiro e é um cosmopolita nos mares tropicais e temperados quentes. De cor prateada-azulada sua carne aparece com frequência em alguns mercados. Os pescadores devem tomar cuidado no manuseio do peixe vivo, pois suas mordidas podem provocar sérias lesões.

2. Garoupa – Moderado 

As garoupas são peixes encontrados em águas tropicais do Atlântico, aqui no Brasil sua ocorrência vai variar de acordo com a espécie. Vivem solitárias em tocas, ou em grupos de até três indivíduos. São ariscas em águas rasas, porém quando encontradas em águas mais fundas permitem aproximação.

3. Cação – Não Consumir, sério risco de extinção.

Os tubarões vendidos comercialmente como cação são peixes muito comuns de encontrar em mercados, peixarias e feiras, seja fresco, salgado ou congelado. A maioria das espécies estão em risco de extinção, não só devido ao consumo alimentar, mas também por usá-los de base para cremes, comprimidos e até para confecção de couro. 

Estes animais têm função de extrema importância no equilíbrio do ecossistema marinho, por ocuparem o topo da cadeia alimentar. Estes animais também são grandes acumuladores de metais, que podem trazer prejuízos a nossa saúde.

Clique aqui e veja a lista completa com 25 espécies!


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