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Liderar para Conservar

Liderar para Conservar
Ana Luiza Cerqueira das Neves
mar. 22 - 7 min de leitura
020

Ao longo da minha experiência com educação para conservação da biodiversidade, tanto no ambiente profissional quanto na academia, fui me deparando com os principais desafios da área. Em meu último emprego, no Departamento de Educação de um zoológico em Foz do Iguaçu, vi a nossa prática ser diariamente incendiada por essas questões:

  • como promover experiências que conectem pessoas com as questões ambientais?
  • como estimular mudanças no pensamento, sentimento e ações em relação ao mundo natural?
  • como compartilhar com o público a responsabilidade sobre a conservação da biodiversidade, estimulando o seu engajamento em ações concretas?

Das lições que aprendi nesses últimos dois anos desenvolvendo ações educativas para a conservação, a principal foi: só o conhecimento não é capaz de influenciar comportamentos mais favoráveis em relação ao meio ambiente.

Mas, Ana, e aquela frase mundialmente famosa 'conhecer para conservar', não se aplica?

Em partes. É claro que é difícil se importar com o que não conhecemos, não vimos, nunca ouvimos falar, mas apenas a informação não garante o engajamento em uma causa. As coisas acontecem em níveis, e o conhecimento é o primeiro deles. Se você nunca utilizou o transporte público no horário de pico, provavelmente não compreende os principais desafios sobre mobilidade urbana da sua cidade, mesmo que já tenha lido ou assistido notícias sobre o assunto. É a experiência que conecta. O problema é que tanto no exemplo acima, quanto na questão da conservação, ainda existe uma enorme lacuna entre se conectar e efetivamente participar, se engajar. Em outras palavras, saber que existe, conhecer, experimentar uma realidade nem sempre nos leva a arregaçar as mangas para mudá-la.

Da mesma forma, apresentar a biodiversidade, informar sobre suas principais ameaças e promover experiências que conectam pessoas com o meio ambiente pode não ser suficiente para alavancar mudanças sociais mais profundas e criar uma cultura da conservação. Eu costumo usar a expressão que ouvi da minha professora da pós-graduação, a neurocientista Carla Tieppo: cultura é comportamento compartilhado. E para mim, implementar uma nova cultura, em qualquer ambiente, passa necessariamente pela formação de lideranças.

Por que devemos focar em desenvolver lideranças para conservação?

Não pretendo aqui discutir os inúmeros perfis de liderança e os prós e contras de cada um. Mas de acordo com nosso bom e velho Aurélio, podemos definir líder como:

pessoa cujas ações e palavras exercem influência sobre o pensamento e comportamento de outras.

Agora pensa comigo. Se cultura é comportamento compartilhado e líder é alguém capaz de influenciar comportamentos, não faz sentido formar lideranças para implementar a cultura da conservação na sociedade?

Pois é, por isso eu acredito que a formação de líderes da conservação pode encurtar aquela distância entre compreender e se conectar com os desafios que a biodiversidade enfrenta e realizar ações efetivas para solucioná-los, funcionando como uma ponte que conecta saberes, experiências, valores e conhecimentos à participação, ao engajamento e à atuação nas questões ambientais.

Quando um cidadão comum, como eu ou você, se torna um líder da conservação, toma para si o protagonismo na criação e desenvolvimento de soluções em favor da biodiversidade. Não se trata de jogar a responsabilidade da conservação das espécies no colo das pessoas, mas compartilhar com as esferas individual e coletiva os desafios enfrentados por instituições, movimentos sociais e governos, fornecendo as ferramentas necessárias para que elas desenvolvam ações dentro do seu campo de atuação.  

Líderes atuam em suas comunidades locais, em seus ambientes de trabalho e associações, criam empreendimentos com impacto ambiental positivo, influenciam comportamentos e movimentam redes. Por isso, desenvolver lideranças na conservação envolve não só a construção de conhecimentos científicos, mas o fortalecimento de habilidades como:

  • comunicação,
  • proatividade,
  • cooperação,
  • problem solving,
  • empreendedorismo,
  • negociação,
  • mobilização e advocacy,
  • diálogo e argumentação,
  • storytelling, entre outras.

Onde estão (ou deveriam estar) os futuros líderes da conservação?

Você pode estar se perguntando

mas eu não sou da área ambiental, como vou ser líder da conservação da biodiversidade?

É comum o pensamento de que somente pessoas das áreas ambientais podem atuar nas questões sobre conservação. Acredito que isso aconteça porque a temática ainda está dentro da bolha das ciências ambientais. Menos que antes, mas ainda está. Basta reparar como cursos e eventos sobre o tema são normalmente pensados e oferecidos para biólogos, veterinários, geógrafos e áreas afins. Mas, na empreitada para criar uma sociedade que compartilha comportamentos e atitudes que beneficiam o meio ambiente precisamos de profissionais de todos as áreas, advogados, economistas, jornalistas, professores, artesãos, cozinheiros, nutricionistas, médicos, faxineiros, artistas, catadores, empreendedores, programadores... todos, absolutamente todos, podem ser líderes da conservação.

Imagine o padeiro da sua rua pensando em como seu negócio pode contribuir para a conservação do bioma onde vive, ou um grupo de jovens do marketing mobilizando as redes sociais para pressionar a criação de políticas públicas em prol da biodiversidade, ou ainda uma empresa de software especializada em criar aplicativos e plataformas que apoiam projetos e estratégias de conservação. Eu sei, muitas dessas coisas já acontecem, mas imagine tudo isso em larga escala. Entendeu o que eu quero dizer com cultura da conservação?

Por fim, quem pode atuar na formação de líderes da conservação?

Tiago Mattos, um dos principais futuristas brasileiros, professor da Singularity University, publicou em suas redes sociais um post sobre os cinco fenômenos do futuro do trabalho. Um em especial me chamou atenção:

Organizações, de todos os tipos, se tornarão escolas.

Isso significa que é uma tendência que as empresas compartilhem sua expertise, seus conhecimentos, desenvolvendo profissionais para as necessidades do mercado - e claro, suas próprias demandas.

Dentro do universo da conservação da biodiversidade, creio que zoológicos e aquários sejam as instituições com maior potencial para tornar essa tendência futurística uma realidade atual, já que, além da expertise inquestionável na área, a educação para conservação constitui um dos pilares mais importantes dessas instituições. Zoos e aquários podem se tornar verdadeiras escolas de liderança para conservação, compartilhando seus propósitos de educação e fornecendo ferramentas para que líderes atuem em suas comunidades visando os mesmos objetivos:

  • construir conhecimentos e compreensão sobre conservação,
  • promover conexões positivas, emoções, atitudes, valores e empatia em relação ao meio ambiente,
  • motivar e influenciar comportamentos e atitudes pró-ambientais.

Compartilhar o propósito significa dividir também os esforços e multiplicar o alcance dessas ações. O efeito é em cascata. Quanto mais líderes formados, mais pessoas que influenciam pessoas, que influenciam pessoas...

“Nunca duvide que um pequeno grupo de pessoas engajadas possa mudar o mundo. De fato, foi sempre assim que o mundo mudou.” (Margaret Mead) 

 

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Sobre mim: bióloga de formação, sou uma educadora que se apaixonou por formação e desenvolvimento de pessoas e resolveu se especializar em neurociência aplicada pra tentar juntar isso tudo. Natureza + educação + desenvolvimento humano, será que dá liga?


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