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A Fauna Invisível

A Fauna Invisível
Pedro Augusto de Souza Wolf
jun. 29 - 4 min de leitura
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Os ambientes de água doce, como rios, lagos e pantanais constituem apenas 1% da superfície do planeta e ainda sim guardam ¼ de todos os vertebrados do planeta e mais da metade de todas as espécies de peixes do mundo (51%). 

Poucas pessoas tem noção da imensa biodiversidade que esse grupo de animais possui, da importância deles para a saúde humana e do meio ambiente e do quanto estão ameaçados de extinção.

A biodiversidade de peixes de água doce funciona como bioindicador de qualidade dos ambientes dulcícolas - se esses ambientes são incapazes de suportar populações de peixes, podemos ter certeza que não serão adequados para humanos também.

O impacto dos peixes de água doce sobre a vida humana está na segurança alimentar e nutricional de milhões de pessoas, no sustento do dia a dia e na cultura e tradição de vários povos. Além disso, a indústria da pesca recreativa movimenta bilhões de dólares, e o aquarismo milhões, ambas práticas que proporcionam lazer e bem-estar humano, reduzindo o estresse.

Apesar de todos os benefícios e importância que eles têm para humanidade, segundo a WWF eles são os peixes esquecidos do mundo, a fauna invisível, que frequentemente está de fora das tomadas de decisão de políticos e do público. Isso ocorre por que os corpos d’água doce ainda são muito vistos e valorizados como fontes de água para abastecimento e outras práticas, e os serviços ecossistêmicos que eles prestam enquanto ambientes saudáveis são deixados para segundo plano.

Por isso não é de se espantar que hoje em dia 30% dos peixes dulcícolas do mundo estão ameaçados de extinção. Se considerarmos os peixes migratórios, chegamos a uma média preocupante de 76% das redução das suas populações em média (Deinet S. et al, 2020), e se ainda considerarmos os “mega-peixes” (>30kg), teremos o assustador declínio de 94% de suas populações (He F. et al, 2019). 

80 espécies já são declaradas oficialmente extintas pela IUCN, com mais 115 consideradas “criticamente ameaçadas e possivelmente extintas”.

Dentre as ameaças que os ecossistemas de água doce sofrem que impactam a biodiversidade de peixes, estão:

  • As barragens (hidrelétricas e para captação de água), que cortam o fluxo dos rios e riachos e impedem a migração de espécies.

  • Captação elevada de água para irrigação, que ameaçam secar o ambiente e alteram o ciclo hidrológico.

  • Despejo de esgoto não tratado e poluentes.

  • Práticas insustentáveis de pesca que levam à reduções drásticas de populações.

  • Introdução de espécies exóticas que ameaçam às nativas.

  • E por último a ameaça ainda pouco compreendida e por isso a mais passível de temor, as mudanças climáticas.

Para que a humanidade siga prosperando, precisamos reverter esse cenário e devolver a estabilidade e saúde dos ecossistemas de água doce, pois eles são o suporte da vida nos ambientes terrestres e prestam serviços de imenso valor, como a manutenção da qualidade da água e fornecimento do estoque pesqueiro. Portanto, restaurar sua biodiversidade é fundamental, e já sabemos as medidas que devem ser tomadas para vencer esse desafio:

  • Deixar que os rios fluem mais naturalmente, protegendo rios livres e retirando barragens sem uso.

  • Melhorar a qualidade da água nesses ecossistemas,

  • Acabar com a pesca insustentável.

  • Acabar com os aterramentos.

  • Prevenir e controlar a introdução de espécies exóticas.

  • Elaborar projetos de recuperação das populações de peixes nativas.

O meio ambiente é compartilhado por todos e não há limites claros e bem definidos que separem a realidade de cada um da natureza que os cerca. Afinal, nosso estilo de vida é sustentado pelo meio natural e nossas práticas o afetam diretamente. Se quisermos recuperar os ecossistemas ameaçados, precisamos do esforço conjunto de todos, inclusive o seu! Espero, com muita esperança, que você nunca mais se esqueça dos peixes de água doce.

 

REFERÊNCIA

WWF – The world’s forgotten fishes (2021).


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